O levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), registrou mais de 31 mil amputações de membros inferiores no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2022. Isso significa que – a cada dia – pelo menos 85 brasileirostiveram seus pés ou pernas amputadas na rede pública de saúde.
O que é a Osteomielite em Pé Diabético?
O pé diabético é uma das complicações mais comuns em pessoas com diabetes, devido à neuropatia diabética, que reduz a sensibilidade nos pés, fazendo com que pequenas feridas ou ulcerações possam passar despercebidas.
Quando não tratadas adequadamente, essas feridas podem evoluir para infecções graves, como a osteomielite, uma infecção óssea que ocorre quando as bactérias ou fungos se espalham dos tecidos moles para o osso.
Por este motivo, a osteomielite é considerada uma das principais causas de amputações não traumáticas em pé diabético.
Saiba como classificar úlceras em pés diabéticos com a classificação de Wagner.
Sintomas da Osteomielite em Pé Diabético
Os sintomas da osteomielite em pé diabético podem variar dependendo da gravidade da infecção e do tempo de evolução. No entanto, os sinais mais comuns incluem:
- Sensibilidade e vermelhidão na área infectada;
- Inchaço;
- Perda na amplitude de movimentos;
- Feridas abertas na região dos pés com presença de pus;
- Sensação de calor na área afetada;
- Náusea;
- Presença de febre e calafrios.
Fatores de Risco
Os pacientes diabéticos estão mais propensos a desenvolver osteomielite devido a uma combinação de fatores, como:
- Neuropatia periférica: diminui a sensibilidade nos pés, tornando os pacientes menos conscientes de lesões;
- Isquemia: a má circulação sanguínea dificulta a cicatrização e a resposta imunológica;
- Infecções crônicas: úlceras de longa duração são uma porta de entrada para bactérias que podem infectar o osso subjacente.
Qual é a Classificação da Osteomielite?
A osteomielite pode ser classificada em três estágios:
- Osteomielite aguda: quando há infecção em até duas semanas;
Nestes casos, os sintomas são dor, inchaço e manchas vermelhas na pele. Além disso, não há alterações ósseas estruturais (necrose óssea).
- Osteomielite subaguda: quando há infecção entre duas e seis semanas;
- Osteomielite crônica: quando há infecção por mais de seis semanas;
Nesses estágios, além de dor, inchaço e manchas vermelhas na pele, também podem surgir sintomas como febre e calafrios, que estão associados a alterações ósseas com necrose, cistos e abscessos.
Como Diagnosticar a Osteomielite em Pacientes com Pé Diabético?
O diagnóstico da osteomielite em pacientes com pé diabético requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo:
Exame Clínico
Avaliação dos pés: o médico ou enfermeiro especialista examinará o pé para identificar sinais de infecção e avaliar a gravidade das úlceras presentes. A presença de tecido necrosado ou exposição óssea são sinais de infecção profunda.
Exames de Imagem
- Radiografia: podem não detectar infecções em estágios iniciais, mas podem mostrar alterações ósseas como destruição, erosões, osteólise ou periostite;
- Ressonância Magnética (RM): é um exame capaz de detectar a presença de infecção óssea e avaliar a extensão e localização da lesão;
- Tomografia Computadorizada (TC): fornece imagens detalhadas, especialmente em casos de osteomielite crônica.
Exames Laboratoriais
- Hemograma Completo: pode mostrar sinais de infecção sistêmica, como aumento dos glóbulos brancos e níveis elevados de proteína C-reativa ou velocidade de hemossedimentação, que podem indicar uma resposta inflamatória no corpo, muitas vezes associada a infecções;
- Velocidade de hemossedimentação (VHS) e PCR (proteína C reativa): ambos os testes são marcadores de inflamação e podem estar elevados em casos de osteomielite;
- Cultura de amostras: uma amostra do osso é retirada e enviada ao laboratório para análise. Além de confirmar a osteomielite, essa análise permite a identificação do tipo de bactéria responsável pela infecção.
A combinação desses métodos permite identificar a presença da infecção óssea, avaliar sua extensão e guiar a decisão terapêutica. Portanto, o diagnóstico precoce da osteomielite e o tratamento adequado podem evitar a progressão da doença e, consequentemente, a amputação de membros inferiores.
Tratamento da Osteomielite em Pé Diabético
O tratamento da osteomielite em pé diabético deve ser urgente e multidisciplinar, envolvendo cuidados clínicos, cirúrgicos e acompanhamento rigoroso. As principais abordagens são:
Tratamento Antibiótico
Nos casos de osteomielite aguda, muitas vezes o tratamento com antibioticoterapia é suficiente. Nos casos de osteomielite subaguda ou crônica, normalmente é necessário o tratamento cirúrgico. No entanto, a escolha do antibiótico depende do tipo de bactéria identificada na cultura da ferida e da gravidade da infecção.
Desbridamento Cirúrgico
O desbridamento é o procedimento cirúrgico para remover o tecido necrosado ou infectado. Em casos mais graves, pode ser necessário remover partes do osso infectado para controlar a infecção e prevenir a propagação.
Sendo assim necessário realizar procedimentos para cobertura cutânea com enxertos ou retalhos de pele e uso de terapias adjuvantes como a câmara hiperbárica.
Cuidados com Úlceras
Além do tratamento da infecção óssea, é necessário tratar as úlceras subjacentes. Isso inclui limpeza regular, aplicação de curativos adequados – como a Membracel – e alívio de pressão na área afetada, usando dispositivos ortopédicos, como botas de unna ou palmilhas especiais.
Amputação
Nos casos em que a infecção está muito avançada e não pode ser controlada ou quando há risco de sepse, a amputação pode ser necessária. Essa medida extrema é tomada para salvar a vida do paciente e evitar a propagação da infecção.
Prevenção da Osteomielite em Pé Diabético
O primeiro passo para prevenir a osteomielite em pé diabético é manter os níveis de glicose sob controle para reduzir o risco de complicações, incluindo infecções.
Os pacientes diabéticos devem inspecionar seus pés diariamente para identificar qualquer característica fora do comum, utilizar calçados confortáveis, evitar andar de pés descalços e hidratar os pés para prevenir o surgimento de rachaduras e ferimentos.
Por último, mas não menos importante, realizar consultas regulares com um especialista em pé diabético para monitorar a saúde dos pés e tratar qualquer problema logo no início.
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Andrezza Barreto
Andrezza Silvano Barreto
Enfermeira formada pela UFC | Pós-Graduanda de Estomaterapia pela UECE |
Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos pela UECE |
Consultora Especialista de Produtos da Vuelo Pharma |
Consultora de produtos Kalmed Hospitalar desde 2021 |
Enfermeira da Equipe de Estomaterapia do Hospital Geral César Cals |
Colabora externa da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (UFC) desde 2020 com atuação no ambulatório de feridas e incontinência urinária |
Preceptora da Pós-graduação em Estomaterapia – UFC no ambulatório de incontinência urinária