Você já teve uma reação alérgica inesperada e ficou se perguntando o que causou aquilo? Ou conhece alguém que desenvolveu uma condição autoimune aparentemente do nada?
A resposta para muitos desses quadros pode estar relacionado uma resposta exagerada do sistema imunológico, também conhecida como hipersensibilidade.
O que é hipersensibilidade?
A hipersensibilidade é uma reação exagerada do sistema imunológico a substâncias que, em condições normais, seriam inofensivas ao organismo.
Assim, essa reação exagerada pode se manifestar de diferentes formas e intensidades, desde alergias leves até doenças autoimunes mais graves.
Embora esteja associada apenas às alergias, a hipersensibilidade também pode provocar respostas patológicas que afetam diferentes tecidos e órgãos do corpo.
Classificação dos tipos de hipersensibilidade (I a IV)
As reações de hipersensibilidade são classificadas em quatro tipos: tipo I, tipo II, tipo III e tipo IV, com base nos mecanismos imunológicos envolvidos e no tempo de resposta após a exposição ao agente causador.
HIPERSENSIBILIDADE TIPO I (Imediata ou Alérgica)
A hipersensibilidade do tipo I, é mediada por anticorpos do tipo IgE e ocorre minutos após a exposição ao alérgeno, sendo por isso chamada de imediata.
Pólen, poeira, alimentos, medicamentos ou veneno de insetos são alguns dos principais desencadeadores da hipersensibilidade tipo I.
As manifestações podem afetar a pele (urticária e eczema), olhos (conjuntivite), nasofaringe (rinorréia, rinite), tecidos broncopulmonares (asma) e trato gastrointestinal (náusea, gastroenterite).
Além disso, o início das reações costuma ser entre 15 e 30 minutos após a exposição, mas em alguns casos pode se manifestar em até 12 horas.
A hipersensibilidade imediata é a forma mais comum de alergia – Foto: Adobe Stock
HIPERSENSIBILIDADE TIPO II (Citotóxica)
Já a hipersensibilidade do tipo II é mediada por anticorpos IgG ou IgM que reconhecem estruturas presentes em células do próprio corpo, ativando o sistema complemento e resultando em destruição celular.
As reações de tipo II incluem rejeição hiperaguda a enxertos de um transplante de órgão, anemias hemolíticas autoimunes, tireoidite de Hashimoto e síndrome de Goodpasture.
HIPERSENSIBILIDADE TIPO III: (Imune Complexa)
Na hipersensibilidade do tipo III, ocorre a formação de complexos antígeno-anticorpo que se depositam nos tecidos, desencadeando inflamação local elesões.
As doenças associadas incluem lúpus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatoide, vasculites, glomerulonefrites e doença do soro. Os sintomas aparecem de 3 a 10 horas após o contato com o antígeno.
O lúpus é uma doença autoimune associada à hipersensibilidade tipo III, caracterizada pela formação de anticorpos contra antígenos do próprio organismo – Foto: Adobe Stock
HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV (Tardia ou Mediada por Células T)
Ao contrário dos outros tipos, a hipersensibilidade do tipo IV é a única que não envolve anticorpos, sendo mediada por linfócitos T.
Além disso, é também chamada de tardia, pois os sintomas surgem entre 24 e 72 horas após a exposição.
As reações do tipo IV são síndrome de Stevens-Johnson, dermatite de contato, reações a medicamentos (como DRESS e SSJ/NET), pneumonite por hipersensibilidade, resposta imunológica à tuberculose e rejeição aguda ou crônica de transplantes.
Principais causas da hipersensibilidade
A hipersensibilidade pode ser desencadeada por uma combinação de fatores externos (exógenos) e internos (endógenos), que ativam de forma exagerada o sistema imunológico.
FATORES EXTERNOS
Os principais agentes externos que podem provocar uma resposta imune exagerada são:
- Alergênicos ambientais: ácaros, pólen, pelos de animais e mofo.
- Alimentos: leite, ovos, nozes, frutos do mar e glúten.
- Medicamentos: antibióticos, anti-inflamatórios, anestésicos e outros fármacos.
- Produtos químicos: cosméticos, metais (como níquel), tinturas e látex.
FATORES INTERNOS
Por outro lado, pessoas com histórico familiar de doenças alérgicas ou autoimunes, são mais propensas a desenvolver reações de hipersensibilidade, devido a uma resposta imunológica naturalmente mais sensível.
Sintomas comuns e sinais de alerta
Os sintomas da hipersensibilidade variam do tipo de hipersensibilidade e da reação do organismo. No entanto, os sintomas mais comuns são:
- Coceira, vermelhidão e inchaço na pele;
- Espirros, congestão nasal, olhos lacrimejantes;
- Dificuldade para respirar, chiado no peito;
- Dor abdominal, diarreia, náuseas;
- Cansaço, febre, dor nas articulações (em casos autoimunes).
A coceira na pele é um dos principais sinais da hipersensibilidade alérgica – Foto: Adobe Stock
Atenção aos sinais de alerta para reações graves:
- Queda súbita da pressão arterial
- Inchaço em língua e garganta
- Dificuldade extrema para respirar
- Perda de consciência
Nesses casos, é importante procurar atendimento médico imediato, pois pode se tratar de uma anafilaxia, condição potencialmente fatal.
Diagnóstico e testes laboratoriais
O diagnóstico da hipersensibilidade depende de uma avaliação clínica detalhada, incluindo histórico do paciente, exame físico e testes laboratoriais para confirmar o tipo e a causa da reação.
Os principais testes para diagnosticar a hipersensibilidade são:
- Teste cutâneo de alergia (prick test): identifica alergias tipo I.
- Dosagem de IgE específica: detecta sensibilização a antígenos.
- Teste de contato (patch test): avalia reações tardias da pele.
- Exames de sangue (hemograma, autoanticorpos): ajudam a identificar reações do tipo II, III e IV.
- Biópsia de pele ou mucosas (em casos complexos).
A solicitação desses exames deve ser feita por profissionais especializados, como imunologistas ou alergistas, para determinar o diagnóstico e tratamento adequado.
Tratamentos e estratégias de manejo clínico
O tratamento da hipersensibilidade depende da causa, da gravidade dos sintomas e do tipo de reação. O principal objetivo é controlar os sintomas, prevenir novas crises e evitar complicações.
O primeiro passo é identificar e evitar o alérgeno ou a substância que está causando os sintomas. Isso inclui mudanças no estilo de vida, como manter o ambiente limpo, usar filtros de ar e evitar produtos que contenham os agentes desencadeantes.
Em alguns casos, como nas infecções bacterianas, o uso de antibióticos é necessário. Já infecções virais podem exigir antivirais, quando indicado pelo profissional de saúde.
Além disso, diferentes medicamentos podem ser utilizados para aliviar os sintomas, conforme o tipo de hipersensibilidade:
- Anti-histamínicos: bloqueiam a ação da histamina, reduzindo sintomas como coceira, espirros e vermelhidão.
- Corticoides: reduzem a inflamação, especialmente em casos moderados a graves.
- Broncodilatadores: usados principalmente em reações respiratórias, como asma.
- Imunossupressores: usados em doenças autoimunes graves.
Nos casos de hipersensibilidade cutânea grave, pode ser necessário o uso tópico ou sistêmico de corticosteroides ou imunossupressores, sempre com acompanhamento médico, para evitar efeitos colaterais e garantir eficácia no tratamento.
Agora que você já sabe tudo sobre hipersensibilidade, entenda por que o outono é a temporada das alergias e como aliviar os sintomas com atitudes simples.
Andrezza Barreto
Andrezza Silvano Barreto
Enfermeira formada pela UFC | Pós-Graduanda de Estomaterapia pela UECE |
Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos pela UECE |
Consultora Especialista de Produtos da Vuelo Pharma |
Consultora de produtos Kalmed Hospitalar desde 2021 |
Enfermeira da Equipe de Estomaterapia do Hospital Geral César Cals |
Colabora externa da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (UFC) desde 2020 com atuação no ambulatório de feridas e incontinência urinária |
Preceptora da Pós-graduação em Estomaterapia – UFC no ambulatório de incontinência urinária