Criança fazendo xixi toda hora: é normal?
É bastante comum que os pais se preocupem ao perceberem que a criança está fazendo xixi toda hora, especialmente se já tiver aprendido a usar o banheiro.
No entanto, é importante entender que o processo de aprendizado da continência urinária varia de criança para criança.
Esse comportamento pode ser apenas uma fase do desenvolvimento infantil, mas também pode indicar alguma condição que merece atenção.
A incontinência urinária é definida como a micção involuntária que ocorre duas vezes ou mais por mês após a criança já ter aprendido a usar o banheiro.
Sendo assim, esse comportamento pode se manifestar de duas formas principais:
- Incontinência diurna: quando a criança tem dificuldade em controlar a bexiga durante o dia;
- Incontinência noturna (enurese ou xixi na cama): quando o problema ocorre durante a noite, mesmo após a criança já ter sido treinada para usar o banheiro.
A maioria das crianças atinge a continência diurna por volta dos cinco anos de idade. No entanto, a continência noturna pode levar mais tempo para se desenvolver.
A enurese noturna geralmente é diagnosticada a partir dos 7 anos – Foto: Freepik
Os problemas de enurese noturna são mais prevalentes em meninos, especialmente quando há histórico familiar de incontinência urinária. Já a incontinência diurna ocorre com mais frequência em meninas.
Crianças menores de cinco ou seis anos ainda podem estar no processo de aprendizado e, portanto, episódios de micção frequente podem ser parte desse desenvolvimento.
É importante destacar que tanto a incontinência diurna quanto a noturna são sintomas, e não diagnósticos. Isso significa que, se a criança continua a urinar com frequência além do esperado para sua idade, é importante procurar a orientação de um médico para investigar as possíveis causas subjacentes.
Causas mais comuns de micção frequente em crianças
A micção frequente em crianças pode ter diversas causas, desde fatores comportamentais até condições médicas, sendo as principais:
- Constipação (prisão de ventre), comum em crianças com hábitos alimentares irregulares ou baixa ingestão de líquidos;
- Infecções do trato urinário (ITUs), bacterianas ou virais, podem causar micção frequente durante o dia e à noite;
- Bexiga hiperativa, quando os músculos da bexiga se contraem involuntariamente, causando urgência urinária e escapes;
- Hábitos inadequados ao urinar, como urinar com pouca frequência ou em posições incorretas (como com as pernas muito juntas);
- Diabetes mellitus e diabetes insipidus, que podem levar ao aumento da produção de urina (poliúria) devido ao descontrole dos níveis de glicose no sangue;
- Ansiedade, estresse, mudanças na rotina (como início das aulas ou chegada de um irmãozinho) e transtornos como TDAH;
- Histórico familiar, já que crianças cujos pais tiveram incontinência urinária na infância têm maior probabilidade de desenvolver o problema;
- Consumo excessivo de líquidos, especialmente antes de dormir;
- Dificuldade em despertar à noite para usar o banheiro, mesmo após a criança já ter aprendido a controlar a bexiga;
- Condições neurológicas, como paralisia cerebral, espinha bífida ou danos neurológicos;
- Abuso sexual infantil, uma causa incomum, mas que deve sempre ser considerada e investigada com atenção.
Além disso, algumas crianças podem ignorar a vontade de urinar para continuar brincando, o que pode fazer com que a bexiga fique muito cheia, sobrecarregando os músculos da região pélvica e aumentando o risco de escapes urinários.
Ignorar a vontade de ir ao banheiro para brincar pode sobrecarregar a bexiga e aumentar o risco de escapes – Foto: Freepik
Criança fazendo xixi toda hora sem dor: o que pode ser?
Se a criança está fazendo xixi toda hora, mas sem dor ou outros sintomas evidentes, isso pode ser apenas um comportamento passageiro, resultado de fatores emocionais ou do consumo excessivo de líquidos.
Antes de se preocupar, vale a pena observar alguns pontos:
- Normalmente, crianças urinam entre 4 e 7 vezes ao dia. Se esse número for muito maior, pode ser necessário investigar;
- Se a criança vai ao banheiro diversas vezes, mas elimina apenas pequenas quantidades de urina, isso pode indicar uma bexiga hiperativa;
- Se a criança sente que precisa correr para o banheiro e, às vezes, até tem escapes de xixi, pode haver uma alteração no controle da bexiga;
- Algumas crianças urinam mais quando estão ansiosas, empolgadas ou distraídas com algo.
Se a micção frequente persistir por mais de duas semanas, mesmo sem dor, é importante observar se há outros sinais associados e buscar a orientação de um médico para um diagnóstico mais preciso.
Quando procurar ajuda médica?
É importante ficar atento e buscar ajuda médica imediata nas seguintes situações:
- Dor ao urinar, sensação de queimação ou desconforto;
- Urina com sangue, cheiro muito forte ou coloração anormal;
- Febre, dor abdominal ou aumento da urgência em urinar, que podem indicar infecção urinária;
- Redução da frequência das evacuações ou fezes muito duras e volumosas, o que pode sugerir constipação;
- Episódios frequentes de incontinência urinária, principalmente se surgirem de forma repentina após um período seco;
- Aumento da sede e da fome, acompanhado de perda de peso, que podem estar relacionados ao diabetes;
- Roncos intensos, pausas na respiração durante o sono ou sonolência excessiva durante o dia, que podem indicar apneia do sono;
- Fraqueza nas pernas ao correr ou ficar em pé, o que pode sugerir problemas neurológicos;
- Histórico familiar de enurese ou distúrbios urológicos;
- Mudanças no comportamento ou sinais de estresse emocional, como dificuldades na escola ou em casa.
Conflitos familiares podem afetar o controle urinário das crianças – Foto: Freepik
Para identificar a causa da micção frequente, o pediatra ou urologista pediátrico poderá solicitar alguns exames, como:
- Urinálise e urocultura, para detectar infecções do trato urinário;
- Exames de sangue e de urina, para avaliar os níveis de glicose e eletrólitos, auxiliando no diagnóstico de diabetes mellitus e diabetes insipidus;
- Ultrassom dos rins e da bexiga, para investigar alterações anatômicas e defeitos congênitos;
- Radiografia do abdômen, para verificar a presença de constipação severa;
- Uretrocistografia miccional, exame com contraste que avalia a estrutura do trato urinário e o fluxo da urina.
Cuidados e prevenção
Existem algumas medidas que os pais ou responsáveis podem tomar para ajudar a manter a saúde da bexiga e prevenir episódios de incontinência urinária em crianças:
- Incentive a criança a ir ao banheiro regularmente, evitando segurar o xixi por muito tempo;
- Crie o hábito de urinar antes de dormir para reduzir os riscos de escapes noturnos;
- Evite o consumo excessivo de líquidos à noite;
- Mantenha uma comunicação aberta com a criança, ajudando-a a lidar com possíveis preocupações ou inseguranças;
- Evite punições ou repreensões, pois a enurese geralmente não está sob o controle da criança;
- Reforce os progressos com incentivos positivos, como elogios ou pequenas recompensas;
- Ensine a criança a limpar-se corretamente após urinar e a lavar as mãos regularmente;
- Garanta uma boa higiene íntima para evitar infecções urinárias;
- Reduza o uso de telas antes de dormir, pois elas podem interferir no sono e na percepção da necessidade de urinar;
- Estimule uma rotina relaxante antes de dormir para melhorar a qualidade do sono.
Com apoio emocional e ajustes no comportamento, a criança aprende a controlar a micção de forma saudável e sem dificuldades – Foto: Freepik
Com paciência e acompanhamento, muitas crianças superam a incontinência naturalmente. A cada ano, cerca de 15% das crianças superam o problema, e aos 15 anos, apenas 1% ainda enfrenta episódios de incontinência.
Agora que você conhece as causas da micção frequente, descubra como identificar o diabetes em crianças e adolescentes!
Andrezza Barreto
Andrezza Silvano Barreto
Enfermeira formada pela UFC | Pós-Graduanda de Estomaterapia pela UECE |
Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos pela UECE |
Consultora Especialista de Produtos da Vuelo Pharma |
Consultora de produtos Kalmed Hospitalar desde 2021 |
Enfermeira da Equipe de Estomaterapia do Hospital Geral César Cals |
Colabora externa da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (UFC) desde 2020 com atuação no ambulatório de feridas e incontinência urinária |
Preceptora da Pós-graduação em Estomaterapia – UFC no ambulatório de incontinência urinária