É verdade que passar a usar uma bolsa de ostomia acaba mudando a rotina e os cuidados diários com o corpo.
Muitas dúvidas e inseguranças surgem… E, pra sanar essas perguntas que rondam nossa cabeça, acabamos recorrendo à tecnologia. É muito fácil achar conteúdos sobre todos os temas possíveis (inclusive “ostomia”), mas com tantas informações disponíveis, é preciso filtrar o que vale a pena e quais informações realmente podem ajudar.
Fizemos uma lista dos temas que mais assombram a cabeça dos recém ostomizados e pedimos para que o enfermeiro estomaterapeuta Antônio Rangel nos ajudasse a elencar quais são MITO e quais são VERDADE.
Confira abaixo:
A bolsa de ostomia interfere na vida social.
MITO. Por mais difícil que seja a fase de adaptação, passar a usar a bolsinha não significa que você não pode mais sair de casa e se divertir. No começo, é normal se sentir inseguro, mas, com o tempo, você vai se adaptando com a nova rotina e aprendendo técnicas que podem facilitar a adaptação.
Vou usar a bolsa de ostomia apenas quando for evacuar.
MITO. Com a cirurgia de construção do estoma, a evacuação passa a ser um ato involuntário. Ou seja, as fezes podem ser expelidas a qualquer momento e, portanto, é preciso estar com a bolsa de ostomia acoplada ao estoma o tempo todo.
Diminuir a ingestão de líquidos omite o funcionamento do estoma.
MITO. Beber água é essencial. Manter o organismo hidratado é extremamente importante para evitar complicações com a ostomia. Além de ajudar no funcionamento do intestino e do organismo de maneira geral, beber água evita constipação e a obstrução do estoma.
As pessoas irão perceber a bolsa de ostomia com facilidade.
MITO. Como as bolsas de ostomia são feitas de material fino e ficam por baixo da roupa, na maioria das vezes, a bolsinha só é notada se estiver muito cheia. Esvaziar a bolsinha com frequência, além de torná-la mais discreta, ajuda a evitar vazamentos. Usar uma cinta própria para ostomia pode ser uma boa solução para manter a bolsinha fixa e mais segura.
A bolsa de ostomia deve ser higienizada várias vezes ao dia.
VERDADE. Evite que a bolsinha encha até sua capacidade total. Isso ajuda a evitar vazamentos e o desprendimento da placa. Ou seja, o ideal é esvaziar e higienizar a bolsinha quando as fezes ou urina atingirem metade da capacidade da bolsa. A frequência de limpeza varia de acordo com cada organismo, já que a dieta e a ingestão de líquidos influenciam diretamente no funcionamento do intestino.
A bolsa precisa ser trocada a cada higienização.
MITO. A troca da bolsa e da placa deve acontecer de acordo com as orientações do fabricante (geralmente, a cada 4 ou 5 dias). Entretanto, esse prazo é muito particular e você pode trocar a bolsa de acordo com a necessidade. Pode ser que a bolsa dure mais ou menos tempo.
As pessoas ao redor não sentem o cheiro da bolsa.
VERDADE. A bolsa tem suas extremidades fechadas e, portanto, não deve deixar o odor passar. Porém, pode adquirir cheiro ruim quando não é higienizada adequadamente ou quando é mantida por muitos dias além do indicado. Se você mantiver uma rotina de limpeza da bolsa e trocá-la conforme indicação do fabricante, dificilmente as pessoas ao seu redor sentirão o cheiro da bolsinha. Outra dica que pode ajudar é usar o Gelificador para Bolsas de Estomia, que são cápsulas com óleo essencial de lavada. O Gelificador aromatiza as fezes e ajuda a evitar vazamentos e infiltrações, pois gelifica os líquidos armazenados pela bolsa.
Ostomizado não pode fazer exercícios físicos.
MITO. Desde que tenha liberação médica, o ostomizado pode, sim, fazer exercícios. Com autorização médica você pode ir à academia, correr, caminhar e praticar esportes. Mas atenção! Evite esportes com muito contato físico ou que possam causar traumas ao estoma. Além disso, esteja sempre atento ao seu limite. Ao menor sinal de dor ou desconforto, suspenda o esforço físico e procure seu médico caso a dor persista.
O ostomizado precisa de uma dieta específica.
VERDADE. As orientações sobre alimentação devem ser passadas pelo cirurgião, estomaterapeuta ou nutricionista. Alguns alimentos podem causar obstrução e precisam ser evitados (é o caso da pipoca). Outros, podem causar gases e desconfortos abdominais, prender ou soltar o intestino. Veja abaixo os resultados de alguns dos alimentos mais comuns do nosso dia a dia.
- Alimentos que causam prisão de ventre: batata, inhame, maçã cozida, banana prata e arroz branco.
- Alimentos que causam gases: feijão, ovos, alho cru, repolho, brócolis e bebidas gaseificadas.
- Alimentos que aumentam o odor das fezes: repolho, frutos do mar, cebola, feijão e batata doce.
- Alimentos que neutralizam o odor das fezes: cenoura, goiaba, pêssego e pêra.
A ostomia traz muitos impedimentos.
MITO. Você pode ter uma vida normal com a ostomia. É claro que as mudanças dessa nova etapa refletem no dia a dia, mas, quando menos perceber, você estará adaptado à nova fase.
Você poderá viajar, sair com os amigos, ir à restaurantes, ir à praia e fazer tudo que desejar (desde que liberado pelo médico).
Durante o período de adaptação é importante tomar alguns cuidados extras. Sempre que for ficar longos períodos fora de casa leve consigo um kit de emergência para troca da bolsa: bolsa, placa, Gelificador, garrafa com água, tesoura, roupa extra e outros acessórios que costuma usar.
Minha vida amorosa acabou.
MITO. Ser sincero e discutir com o seu parceiro sobre a nova condição é essencial. Essa conversa ajudará a entender quais adaptações serão necessárias para que os dois se sintam confortáveis nos momentos íntimos.
É importante, também, os dois estarem em sintonia sobre o momento mais adequado para retomar as relações sexuais. Em alguns casos, buscar a ajuda de um psicólogo pode ser uma boa opção.
É natural que após o período operatório o desejo sexual diminua (em especial, em pessoas que estão passando por quimioterapia). Portanto, é essencial que o parceiro seja compreensivo e respeite as inseguranças naturais que a nova condição traz.
Veja abaixo 5 dicas que irão te ajudar a se sentir mais confortável nos momentos íntimos com a bolsa de ostomia:
- Sempre esvazie a bolsa antes de ter relações sexuais;
- Dê preferência para a bolsa revestida de tecido. Ela proporciona menos atrito com a pele e, ainda, evita o contato visual com o conteúdo armazenado;
- Existem no mercado cintas especiais para ostomizados, que dão mais segurança aos movimentos e deixam a bolsa menos visível. Outras opções que também podem ser usadas são tensores abdominais e espartilhos (para mulheres);
- Usar uma bolsa não drenável de menor capacidade pode ser mais confortável para esses momentos. Vale a pena testar;
- Insira de 2 a 3 cápsulas do Gelificador para Bolsas de Estomia dentro da bolsa. As cápsulas irão dissolver, aromatizar o conteúdo da bolsa e gelificar os líquidos. Isso dará mais segurança e conforto para namorar.
Sempre que for pesquisar informações, busque fontes confiáveis. Existem Associações de Ostomizados por todo o país e algumas são bastante ativas, compartilhando dicas interessantes em Blogs e Redes Sociais.
Outra opção é procurar profissionais especializados em ostomias, como é o caso do enfermeiro estomaterapeuta.
Trocar informações e experiências com outros ostomizados também pode ajudar na adaptação à rotina com a bolsinha.
Quer saber mais? Leia dicas para cuidar de ostomias em crianças e em idosos.
Antonio Rangel
Antônio Rangel
Enfermeiro Especialista Estomaterapia e Podiatria Clinica e saúde da Família |
Graduado em enfermagem pela PUC-PR |
Pós-graduado em Estomaterapia (feridas, incontinência e estigmas) pela PUC-PR |
Pós-graduado em Podiatria Clínica pela UNIFESP |
Pós-graduado em Saúde Coletiva pela UFPR |
Pós-graduado em Saúde da Família pela Faculdade Evangélica pela PR |
Enfermeiro Assessor Técnico da Vuelo Pharma até 2023 |
Professor convidado do curso de Estomaterapia da PUC-PR |
Enfermeiro referência para tratamento de feridas e pé diabético da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba