Um dos procedimentos mais invasivos que uma pessoa pode sofrer é a ostomia, técnica cirúrgica que abre a parede abdominal para desvio do fluxo intestinal ou urinário, que em seguida é ligado ao meio externo e passa a exigir a utilização de uma bolsa coletora de fezes ou urina.
Até então pouco conhecida pela população em geral, a ostomia entrou na pauta desde a lesão sofrida pelo então candidato Jair Bolsonaro, em setembro de 2018, que o levou a precisar da bolsa coletora. No início deste ano, já presidente, Bolsonaro passou por uma etapa decisiva para poder viver novamente sem a necessidade do item.
De fato, para muitos pacientes essa pode ser uma condição temporária (que se encerra assim que o organismo volta a funcionar normalmente). Porém, quando o fluxo natural não pode ser reestabelecido, é possível ter vida normal, com atividades profissionais, sociais e de lazer.
Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de 50 mil brasileiros vivem hoje na condição de ostomizados, mas se estima que o número seja maior, beirando os 100 mil casos. Trata-se de um grupo de pessoas que, assim como aconteceu com Bolsonaro, enfrenta uma rotina estafante de higienização da bolsa, que é esvaziada oito vezes ao dia, em média. Além disso, se vive um embate para não ter a autoestima diminuída, uma vez que o uso do item pode exalar mau cheiro ou ao menos deixar o paciente inseguro com o risco de isso vir a acontecer.
“Eu passei por algumas situações constrangedoras em função da bolsa de ostomia, tanto pelo odor quanto pela dificuldade de troca. Cansei de me sujar e foi desesperador. No início eu tive a ajuda da minha família, mas precisei me tornar independente no processo e aprender a fazer a troca sozinha. Em média eu demoro de 15 a 20 minutos cada vez”, conta Viviani Mattos, 32 anos, ostomizada desde o nascimento.
Viviani nasceu com uma má formação congênita que a fez utilizar a bolsa desde bebê, em uma rotina repleta de operações, médicos e de um exercício constante para manter a autoestima elevada. Criadora e administradora do maior grupo online de ostomizados do Brasil, ela compartilha abertamente suas experiências e conta que uma das maiores dificuldades é a barreira da socialização.
Hoje Viviani inspira milhares de ostomizados em suas redes sociais e mostra que é possível levar uma vida normal usando a bolsa coletora. Isso porque já existem facilidades desenvolvidas por empresas do setor de saúde e bem-estar, que investem em soluções totalmente voltadas a esse público. Viviani conta, por exemplo, que em 2016 conheceu o gelificador com essência de lavanda, um produto brasileiro, inédito no mundo, e que transformou sua vida. Hoje ela trabalha, namora, viaja, vai a festas e reuniões, além de ter uma alimentação normal, como qualquer pessoa.
O gelificador citado por Viviani consiste em cápsulas com solução gelificante que, somadas a uma essência de óleo puro de lavanda, garantem o odor mais agradável assim que a bolsa é preenchida por fezes ou urina. Além do resultado olfativo, a solidificação dos resíduos promovida pelo produto facilita o esvaziamento do recipiente, enquanto o óleo colabora para a limpeza mais rápida da bolsa (que costuma ser reutilizada durante dois ou três dias) e aumenta a vida útil do item.
Gabriela Thaisa Braga, de 20 anos, foi ostomizada esse ano e também encontrou nesse tipo de gelificador, produzido pela Vuelo Pharma, a segurança que precisava para retomar sua rotina diária. “Em decorrência da Doença de Crohn, precisei ser ostomizada. Como havia me preparado antes mesmo de realizar a cirurgia, meu pós-operatório não trouxe muitas surpresas. Apesar das dificuldades iniciais, dez dias passados do procedimento já possuía autonomia na troca da bolsa e com o conforto que o gelificador com essência de lavanda retomei rapidamente as atividades normais, como ir à praia e sair com os amigos”, conta.
“Soluções como o gelificador é como uma injeção de autoestima nos ostomizados. É sua chance de viver sem medo de julgamentos ou constrangimentos”, explica Thiago Moreschi, diretor da Vuelo Pharma. Ele conta que o item é inédito no mercado mundial e sua criação levou em conta os relatos e as dificuldades enfrentadas por pacientes ostomizados. “Nosso objetivo é proporcionar mais autonomia, qualidade de vida e um retorno feliz à socialização, mesmo para quem não teve sucesso ou chances de reversão desse quadro”, completa o executivo.
“Já acompanhamos casos de ostomizados que não conviviam nem mesmo com a própria família, devido à insegurança em relação ao odor”, conta Antônio Rangel, enfermeiro estomaterapeuta, área da enfermagem especializada em ostomias e feridas.