A irrigação da colostomia é uma prática que algumas pessoas usam como técnica de manutenção, mas para outras, pode ser uma forma de evitar o uso de uma bolsa coletora.
O que é irrigação intestinal?
A irrigação é uma técnica de limpeza mecânica que busca regularizar a atividade do intestino. A partir desse método, é possível controlar a eliminação de fezes por meio do estoma, “educando” o intestino a funcionar a cada 24, 48 ou até 72 horas.
Em muitos casos, a irrigação permite dispensar o uso da bolsa coletora durante esses intervalos, o que proporciona mais qualidade de vida ao ostomizado. No lugar da bolsa coletora um sistema oclusor é acoplado ao estoma, aumentando a sensação de liberdade e segurança.
O processo envolve a introdução de água no intestino, por meio do estoma, para estimular contrações intestinais (peristaltismo) e facilitar a evacuação completa do conteúdo fecal.
A introdução à irrigação deve ser orientada por um enfermeiro estomaterapeuta, já que muitos detalhes precisam ser levados em consideração.
Além disso, a irrigação é recomendada para pacientes com constipação crônica, colostomias no cólon descendente ou sigmoide, ou doenças intestinais que afetam a capacidade natural de evacuação.
Quem pode se beneficiar da irrigação intestinal?
É importante que a indicação de utilização desse método parta do médico ou do enfermeiro estomaterapeuta, pois a técnica não pode ser utilizada por todo ostomizado.
Os pré-requisitos para realizar a irrigação são:
- Ter colostomia esquerda terminal (confeccionada no cólon descendente ou sigmóide) ou dupla boca;
- Ter condições físicas e motoras para realizar o procedimento e o autocuidado;
- Usufruir de condições básicas de saneamento no domicílio;
- Ausência de prolapso, hérnia, retração e lesões periestoma;
- Não ser portador de Síndrome do Cólon Irritável.
Contraindicações: colostomias confeccionadas no cólon transverso ou ascendente; ostomias de intestino delgado; ostomia com complicações (hérnias ou protusão, prolapsos, estenoses e lesões periestoma).
Kit para irrigação
O kit para irrigação é composto por:
- Bolsa plástica graduada transparente com dispositivo medidor da temperatura da água;
- Tubo conector que liga a bolsa ao cone maleável que, por sua vez, é inserido no estoma para a introdução da água;
- Manga drenável transparente cuja saída deve ser posicionada no vaso sanitário;
- Anel avulso para fixação da manga no estoma por meio de elástico ajustável (a manga também pode ser fixada diretamente na placa da bolsa coletora, se preferir).
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Benefícios e riscos da irrigação intestinal
Quando feita regularmente, a irrigação pode oferecer mais controle sobre a função intestinal, permitindo maior liberdade e independência. Além disso, pode evitar episódios de constipação, reduzir a produção de gases, o odor fecal e a dor na pele ao redor do estoma.
Ao eliminar a necessidade de bolsas coletoras durante os intervalos, os ostomizados se sentem mais confiantes e confortáveis, o que reflete positivamente nas interações sociais e na rotina diária.
No entanto, algumas pessoas podem sentir cólicas ou leve desconforto durante a introdução da água. Assim como ouso incorreto da técnica, como água em temperaturas inadequadas ou pressões muito altas, também pode causar irritações na pele.
Embora raro, é possível que o procedimento cause perfurações em casos mal executados ou sem supervisão médica. Por isso que a técnica deve ser supervisionada por um profissional de saúde, para garantir segurança e bons resultados.
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Passo a passo da irrigação para colostomia
- Antes de começar, certifique-se de que a válvula que regula o fluxo da água esteja completamente fechada;
- Conecte o tubo no cone ao regulador;
- Encha a bolsa medidora com aproximadamente 1 litro de água morna. A temperatura da água deve estar entre 36ºC e 38ºC (cheque no termômetro localizado na base da bolsa medidora);
- Prenda a bolsa medidora em um local que fique, no mínimo, na altura do seu ombro;
- Direcione o cone para o vaso sanitário e abra o regulador para que a água passe pelo cano, removendo todo ar. Quando o tubo estiver cheio de água, feche novamente o regulador;
- Prenda a manga ao estoma utilizando o anel do kit ou acoplando à placa da bolsa de ostomia;
- Posicione a ponta de saída da manga no vaso sanitário de maneira que não toque a água (se necessário, corte um pedaço da manga);
- Insira delicadamente o cone no estoma e segure-o com uma das mãos;
- Aos poucos, abra o regulador para libera a entrada de água. Tenha paciência! Se a água entrar com muita rapidez, você poderá sentir cólicas e desconforto.
- Deixe a água fluir por completo (aproximadamente 20 minutos) e, então, feche o regulador;
- Dentro do intestino, a água provocará movimentos peristálticos, estimulando a saída das fezes;
- Retire o cone do estoma e feche a parte superior da manga com o clip. Nos próximos 20 minutos, a água sairá junto com as fezes e será direcionada pela manga para o vaso sanitário;
- Quando o fluxo de saída de fezes diminuir, dobre a manga até a parte superior e prenda com o clipe. Aguarde mais 20 minutos até que o intestino seja completamente limpo – você pode aguardar esse tempo fazendo outras atividades
- Quando o intestino estiver vazio, desacople a manga do estoma e aplique o oclusor, que só será trocado no momento da próxima irrigação;
- O kit irrigação pode ser reutilizado diversas vezes. Por isso, limpe os componentes seguindo as instruções do fabricante.
Cuidados após a irrigação intestinal
Após o procedimento de irrigação, é necessário proteger o estoma com a utilização de um sistema oclusor, uma espécie de tampão adesivo e descartável e flexível. Disponível em modelos de uma ou duas peças, o oclusor possibilita o controle da eliminação de fezes e gases.
Esse adesivo deve ser trocado a cada irrigação. Ou seja, cada oclusor dura o tempo do intervalo entre as irrigações (que pode ser de até 72h).
A irrigação é um método prático e seguro, que não gera nenhuma agressão ao ostomizado, capaz de melhorar sua qualidade de vida e auxiliar no processo de reabilitação.
Em pacientes com colostomia, o uso de curativos especiais como a Membracel Membrana Regeneradora Porosa pode ajudar a proteger a pele ao redor do estoma, prevenindo irritações e lesões, além de acelerar a cicatrização, caso seja necessário.
DICAS PARA FAZER A IRRIGAÇÃO
Se o seu caso não apresenta nenhuma contraindicação e você pretende dar início à irrigação, as dicas abaixo podem ajudar bastante. Mesmo que você já esteja realizando o processo, as dicas são valiosas para que o resultado seja o melhor possível.
- Hidrate-se: é imprescindível ingerir, no mínimo, 2 litros de água por dia. Quando o organismo está desidratado, o intestino absorve água, comprometendo a irrigação. Um sinal de desidratação é a saída de água muito lenta. Isso pode indicar que o intestino está absorvendo-a.
- Relaxe: manter a musculatura do abdômen relaxada reduz a resistência do estoma, o que colabora para inserção do cone;
- A altura da bolsa plástica (que armazena a água) influencia na pressão e na velocidade que a água entra no intestino. É importante manter a bolsa na altura do ombro para que a técnica funcione conforme o esperado;
- Se a água começar a retornar para a mangueira de conexão, interrompa o procedimento;
- Fique atento: ao menor sinal de mal estar, como tontura ou enjôo, interrompa o procedimento e informe seu médico ou estomaterapeuta;
- Conforme o organismo for se adaptando, a água que sai do intestino começará a ficar mais limpa. Essa é a hora de conversar com seu estomaterapeuta para aumentar o intervalo entre as irrigações.
Apesar de exigir um pouco de paciência por parte do ostomizado, o processo de irrigação é uma alternativa viável. Controlar a atividade intestinal proporciona benefícios físicos e psicológicos, como o aumento da autoestima e a diminuição da ocorrência de dermatites e lesões periestoma.
Quer saber mais? Saiba como cuidar de uma colostomia infantil!
Antonio Rangel
Antônio Rangel
Enfermeiro Especialista Estomaterapia e Podiatria Clinica e saúde da Família |
Graduado em enfermagem pela PUC-PR |
Pós-graduado em Estomaterapia (feridas, incontinência e estigmas) pela PUC-PR |
Pós-graduado em Podiatria Clínica pela UNIFESP |
Pós-graduado em Saúde Coletiva pela UFPR |
Pós-graduado em Saúde da Família pela Faculdade Evangélica pela PR |
Enfermeiro Assessor Técnico da Vuelo Pharma até 2023 |
Professor convidado do curso de Estomaterapia da PUC-PR |
Enfermeiro referência para tratamento de feridas e pé diabético da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba