Você sabia que o Brasil ocupa o 6º lugar no ranking mundial de países com mais casos de diabetes e o 3º lugar quando se fala em diabetes tipo 1?
Esses números preocupantes foram apontados pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e podem ser ainda maiores, já que 1 a cada 3 pessoas com diabetes não sabe que tem a doença.
Com o aumento dos casos de diabetes no país, entender o que é a doença, seus tipos, sintomas e aprender como prevenir se torna cada vez mais importante. Mas afinal, o que é o diabetes mellitus e como saber identificar os sinais? Continue lendo para descobrir!
O Que é Diabetes Mellitus?
O diabetes mellitus é uma doença metabólica crônica caracterizada pelo aumento dos níveis de açúcar no sangue (hiperglicemia). Isso acontece quando há produção insuficiente ou má absorção de insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas.
A insulina tem a função de regular a glicose no organismo, permitindo que ela seja utilizada como fonte de energia para manter o corpo em funcionamento.
Quando esse processo não ocorre corretamente, a glicose se acumula na corrente sanguínea, podendo causar complicações sérias em diversos órgãos, como coração, rins, olhos e nervos.
Por ser uma doença silenciosa, muitas pessoas convivem com o diabetes sem saber, aumentando o risco de problemas de saúde a longo prazo.
O diabetes é considerado uma doença silenciosa porque, muitas vezes, não apresenta sintomas – Foto: Freepik
Sintomas e Diagnóstico do Diabetes Mellitus
Os sintomas do diabetes mellitus podem variar conforme o tipo e a gravidade da doença.
No entanto, existem alguns sinais que podem indicar que o organismo não está lidando corretamente com a glicose (açúcar no sangue).
Entre os principais sintomas, estão:
- Fome frequente;
- Sede excessiva (polidipsia);
- Vontade de urinar várias vezes ao dia (poliúria);
- Formigamento ou dormência nas extremidades, como mãos e pés;
- Perda de peso inexplicada;
- Sensação de fadiga e cansaço excessiva;
- Mudanças de humor;
- Náusea e vômito;
- Infecções recorrentes na bexiga, rins e infecções de pele;
- Feridas ou machucados que demoram mais tempo do que o normal para cicatrizar;
- Visão embaçada.
O exame mais comum para diagnosticar o diabetes é a glicemia em jejum, realizado após pelo menos 8 horas de jejum. Os valores de referência são:
- Hipoglicemia: abaixo de 70 mg/dL
- Glicemia normal: 70 a 99 mg/dL
- Pré-diabetes: entre 100 e 125 mg/dL
- Diabetes: acima de 126 mg/dL
Caso a glicemia em jejum esteja alterada, o médico pode solicitar outros exames para confirmar o diagnóstico, como:
- Teste de tolerância à glicose (OGTT): realizado após a ingestão de uma solução de glicose, com medições da glicose após 2 horas. Se o valor for superior a 200 mg/dL, o diagnóstico de diabetes é confirmado.
- Hemoglobina glicada (HbA1c): mede a média dos níveis de glicose nos últimos 2 a 3 meses. Valores acima de 6,5% indicam diabetes.
O hemoglicoteste (HGT) com o glicosímetro é um teste de sangue que mede a quantidade de açúcar no sangue – Foto: Freepik
É importante destacar que, em casos de suspeita de diabetes, é essencial procurar um médico endocrinologista para realizar os exames e confirmar o diagnóstico.
Tipos de Diabetes Mellitus
O diabetes mellitus pode ser classificado em diferentes tipos, cada um com suas características e causas específicas.
Embora todos os tipos compartilhem o aumento da glicose no sangue, eles variam em relação ao mecanismo que causa a hiperglicemia, ao tratamento necessário e aos fatores de risco envolvidos.
Diabetes Tipo 1
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, geralmente diagnosticada em crianças e adolescentes, mas também pode ser identificado em adultos.
Nesse tipo de diabetes, o sistema imunológico ataca equivocadamente as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Como resultado, o organismo não consegue produzir insulina suficiente para controlar a glicemia.
Embora seja menos comum, representando cerca de 10% dos casos de diabetes, o diabetes tipo 1 exige que os pacientes se tornem dependentes de insulina.
A partir do diagnóstico, é necessário fazer aplicações diárias de insulina para controlar os níveis de glicose no sangue e garantir o bom funcionamento do organismo.
Diabetes Tipo 2
O diabetes tipo 2 é o tipo mais comum de diabetes, representando aproximadamente 90% dos casos.
Diferente do tipo 1, o diabetes tipo 2 está mais relacionado ao estilo de vida, especialmente a alimentação inadequada, o sedentarismo e a obesidade.
Nesse tipo de diabetes, o organismo desenvolve resistência à insulina, o que significa que, apesar de o pâncreas continuar produzindo insulina, ela não consegue ser utilizada de maneira adequada pelas células.
Com o tempo, o pâncreas pode não conseguir produzir insulina suficiente, levando ao aumento dos níveis de glicose no sangue. O diabetes tipo 2 é mais comum em adultos, mas vem crescendo também entre crianças e adolescentes, devido ao aumento da obesidade infantil.
A OMS estima que, em 2025, haverá 75 milhões de crianças obesas no mundo – Foto: Freepik
A boa notícia é que, em muitos casos, o diabetes tipo 2 pode ser prevenido ou controlado com mudanças no estilo de vida, como uma dieta saudável, prática regular de exercícios físicos e controle de peso.
Diabetes Gestacional
O diabetes gestacional surge durante a gravidez, afetando entre 2% e 4% das gestantes. Esse tipo de diabetes é caracterizado por altos níveis de glicose no sangue durante a gestação, geralmente a partir do segundo trimestre.
Apesar dos sintomas nem sempre sejam visíveis, a condição pode causar riscos tanto para a mãe quanto para o bebê, como o aumento de peso do bebê e o risco de hipoglicemia (baixo nível de glicose) logo após o nascimento.
Embora o diabetes gestacional desapareça após o parto, as mulheres que tiveram essa condição têm maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 mais tarde na vida.
Além disso, os bebês nascidos de mães com diabetes gestacional também têm maior probabilidade de se tornarem obesos e desenvolverem diabetes tipo 2 na idade adulta.
O diabetes gestacional aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2 – Foto: Freepik
Causas e Fatores de Risco
As causas do diabetes mellitus variam conforme o tipo. No diabetes tipo 1, a origem é predominantemente genética e hereditária. Já no diabetes tipo 2, a doença é fortemente influenciada pelo estilo de vida, como uma alimentação rica em açúcares e gorduras e a falta de atividades físicas, levando à resistência à insulina.
Além dos fatores genéticos e da ausência de hábitos saudáveis, existem outros fatores de risco que aumentam as chances de uma pessoa desenvolver o diabetes. Entre eles estão:
- Diagnostico de pré-diabetes;
- Hipertensão (pressão acima de 140/90 mmHg);
- Níveis altos de colesterol LDL (o colesterol “ruim”) e baixos níveis de colesterol HDL (o colesterol “bom”);
- Alterações na taxa de triglicérides no sangue;
- Excesso de peso, principalmente quando a gordura está concentrada em volta da cintura;
- Parentes próximos (pais ou irmãos) com diabetes;
- Doenças renais crônicas;
- Mulher que deu à luz criança com mais de 4kg;
- Histórico de diabetes gestacional;
- Síndrome dos ovários policísticos (SOP);
- Alimentação rica em açúcares refinados, gorduras saturadas e alimentos processados;
- Diagnóstico de distúrbios psiquiátricos, como esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar;
- Apneia do sono;
- Uso de medicamentos da classe dos glicocorticoides.
Corticosteroides sistêmicos podem causar hiperglicemia em diabéticos e não diabéticos – Foto: Freepik
Diabetes Mellitus Tem Cura?
Atualmente, o diabetes mellitus não tem cura. No entanto, a boa notícia é que, com o tratamento adequado e mudanças no estilo de vida, é possível controlar a doença.
O manejo do diabetes envolve o uso de medicamentos, insulina (no caso do diabetes tipo 1) e a adoção de hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, controle de peso e a prática regular de atividades físicas.
Isso permite que as pessoas com diabetes tenham uma qualidade de vida excelente, sem grandes limitações, desde que sigam as orientações médicas e ao tratamento recomendado.
Tratamento do Diabetes Mellitus
O tratamento do diabetes mellitus varia de acordo com o tipo da doença, mas o objetivo principal é o mesmo: manter os níveis de glicose no sangue dentro da faixa considerada saudável e prevenir complicações a longo prazo.
Os pacientes que apresentam diabetes do tipo 1 precisam de injeções diárias de insulina ou utilizar bombas de infusão, que administram o hormônio de maneira contínua.
A insulina deve ser administrada diariamente para manter a glicose no sangue em níveis normais – Foto: Freepik
Além disso, é fundamental monitorar regularmente os níveis de glicose no sangue. Para isso, recomenda-se o uso de um glicosímetro, um aparelho que mede a concentração exata de glicose e auxilia no controle da doença.
Já no caso do diabetes tipo 2, o tratamento pode envolver mudanças no estilo de vida e o uso de medicamentos orais (metformina, sulfonilureias, acarbose) ou injetáveis (Ozempic), dependendo da gravidade do quadro.
Vale destacar que, muitas pessoas com diabetes tipo 2 também convivem com outras condições de saúde, como obesidade, sedentarismo, triglicerídeos elevados e hipertensão arterial.
Por isso, é importante um acompanhamento regular com profissionais de saúde para ajustar o tratamento conforme necessário e prevenir complicações.
Complicações do Diabetes Mellitus
Quando o diabetes mellitus não é diagnosticado ou tratado corretamente, sua evolução pode causar diversas complicações, como:
- Doenças cardiovasculares: aumento do risco de infarto agudo do miocárdio (ataque cardíaco), acidente vascular cerebral (AVC) e arritmias cardíacas graves, que podem levar à parada cardiorrespiratória;
- Neuropatia diabética: condição que afeta o sistema nervoso e aumenta o risco de úlceras e infecções, podendo levar a complicações sérias, como amputações;
- Nefropatia diabética: doença que compromete os rins, aumentando o risco de insuficiência renal e, em casos mais graves, pode ser necessária diálise ou até mesmo um transplante renal;
- Problemas circulatórios: especialmente nos membros inferiores (pés e pernas), que pode causar feridas de difícil cicatrização, aumentando o risco de úlceras e infecções graves;
- Disfunção sexual: o diabetes pode causar disfunção erétil nos homens e, nas mulheres, levar à redução da libido e ressecamento vaginal;
- Comprometimento da visão: o rompimento dos vasos sanguíneos dos olhos, pode levar a doenças como retinopatia diabética, edema macular diabético e, em casos mais graves, cegueira.
O acompanhamento médico regular, a adoção de hábitos saudáveis e o tratamento adequado são as melhores formas de prevenir e minimizar os impactos da doença no organismo.
Check-ups periódicos são essenciais para o diagnóstico precoce de diabetes e outras doenças – Foto: Adobe Stock
Cuidados com a Pele e Feridas em Diabéticos
Pessoas com diabetes mellitus precisam ter um cuidado especial com a pele, principalmente nos pés e membros inferiores, pois a circulação deficiente e a perda de sensibilidade aumentam o risco de feridas difíceis de cicatrizar.
Além do controle rigoroso da glicemia, é fundamental inspecionar os pés diariamente. Essa avaliação pode ser feita pelo próprio paciente ou por um familiar, garantindo que qualquer alteração seja identificada rapidamente.
Mesmo ferimentos pequenos devem ser levados a sério e tratados com um profissional de saúde, assim que forem notados. Veja a seguir alguns cuidados essenciais para manter a saúde da pele e dos pés em diabéticos:
- Higienização adequada: lave os pés diariamente com água e sabão neutro, secando bem, especialmente entre os dedos. Aplique um hidratante próprio para diabéticos para evitar rachaduras, mas nunca entre os dedos.
- Escolha de calçados: use sapatos confortáveis, fechados e que não causem atrito. Evite andar descalço e sempre verifique se há objetos dentro do calçado antes de calçá-los.
- Meias apropriadas: prefira meias claras de cano longo e sem elásticos apertados, pois elas evitam compressão excessiva e melhoram a circulação.
- Corte das unhas com cuidado: mantenha as unhas cortadas retas e sem pontas afiadas, para evitar cortes que possam evoluir para infecções.
- Tratamento de lesões: em casos de feridas causadas pelo diabetes, o uso de curativos especiais como a Membracel, pode acelerar o processo de cicatrização e reduzir o risco de infecções.
- Evite tratamentos caseiros: nunca aplique sal, açúcar, pasta de dente ou qualquer substância caseira em feridas, pois isso pode agravar a infecção e retardar a cicatrização.
- Monitoramento da glicemia: manter os níveis de glicose sob controle é essencial para evitar complicações e garantir uma melhor cicatrização da pele.
Caso perceba qualquer lesão, bolha, vermelhidão, inchaço ou dor nos pés, procure imediatamente um médico ou enfermeiro estomaterapeuta.
Andrezza Barreto
Andrezza Silvano Barreto
Enfermeira formada pela UFC | Pós-Graduanda de Estomaterapia pela UECE |
Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos pela UECE |
Consultora Especialista de Produtos da Vuelo Pharma |
Consultora de produtos Kalmed Hospitalar desde 2021 |
Enfermeira da Equipe de Estomaterapia do Hospital Geral César Cals |
Colabora externa da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (UFC) desde 2020 com atuação no ambulatório de feridas e incontinência urinária |
Preceptora da Pós-graduação em Estomaterapia – UFC no ambulatório de incontinência urinária